Sereias da Vila estreiam contra o Always Ready, da Bolívia, nesta quinta-feira, semanas depois de rebaixamento inédito no Brasileirão da modalidade

Santos FC – Libertadores Fem

O Santos enfrenta o Always Ready, da Bolívia, pela 1ª rodada da fase de grupos da Conmebol Libertadores Feminina. O duelo será nesta quinta-feira, às 21h (de Brasília), no estádio CAR-FEM, em Ypané, no Paraguai. O sportv3 transmite a partida.

Após uma temporada mergulhada em crise, que culminou no rebaixamento do Campeonato Brasileiro, as Sereias da Vila querem que a competição continental seja a pedra fundamental da reconstrução do futebol feminino.

Para isso, a equipe foi reforçada por cinco jogadoras: Day Silva, Fabiana Yanten, Nathane, Rafa Martins e Yami Rodriguez. Além disso, o Santos trouxe de volta o técnico Caio Couto, campeão brasileiro com o clube em 2017 e um dos responsáveis pela reconstrução das Sereias em 2015, categoria que havia sido desativada três anos antes.

Time feminino do Santos antes da disputa de jogo do Campeonato Paulista — Foto: Bruno Vaz / Santos FC
Time feminino do Santos antes da disputa de jogo do Campeonato Paulista — Foto: Bruno Vaz / Santos FC

O treinador analisou o atual momento do futebol feminino do Santos. Ele enxerga uma equipe que busca reencontrar as origens do clube. Para isso, Caio Couto tem como primeiro foco a montagem do elenco. O comandante também reconhece a importância de desempenhar um bom papel em uma competição na qual as Sereias já conquistaram dois títulos, além de um vice-campeonato na libertadores.

– O Santos está numa busca por uma identidade. Ele perdeu sua identidade e está precisando se reencontrar. Pagou o maior preço que foi o rebaixamento para a Série B. O número um e mais importante para o futebol é a montagem do elenco. É o marco zero. Você conseguir montar um elenco equilibrado, com jogadoras qualificadas em diversas posições, polivalentes, haja visto que o Santos não tem o melhor, mas um bom orçamento.

– Tem que saber utilizar o que você tem da melhor maneira possível. Quando você, de repente, não tem uma boa montagem de elenco e você perde a identidade, deixa ter processos internos, coisa que são importantes no dia a dia, tudo fica mais difícil de acontecer. O resultado de campo é o estopim de todo o resto que possa ter acontecido nos bastidores.

Sereias da Vila campeãs da Libertadores em 2009 — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC
Sereias da Vila campeãs da Libertadores em 2009 — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC

– O que estamos fazendo agora é qual o processo, qual o caminho que temos que fazer. Nosso trabalho é esse. Estamos num final de temporada, que tem essa competição. Estou preocupado com que o Santos seja competitivo numa Libertadores. O time tem tradição na competição. Não podemos ir apenas participar. Temos que competir e buscar a vitória. São coisas distintas.

A Libertadores servirá, também, para Caio Couto avaliar o elenco em competição e ter ideias mais claras sobre quais jogadoras devem seguir ou não para o projeto da próxima temporada. O técnico explicou qual sua visão de modelo de time para 2025.

– Independente do calendário de 2025 nós precisamos de um elenco forte, com atletas com características que vai ao encontro ao modelo de jogo que desejamos implantar. Desejamos implantar o que é a cultura de futebol do Santos. Não posso chegar e fazer algo que não vai de encontro ao que a diretoria e torcedor esperam. Meu trabalho é mapear o elenco, buscar na base, ir ao mercado e trazer atletas com características de modelo de jogo do Santos. Um futebol alegre, leve, propositivo, com atletas capacitadas em todos os setores do campo. Que tenham atletas com capacidade de um contra um. Isso é o Santos Futebol Clube. Essa é a missão. Tem o curto e médio prazo, que é pensar um elenco que tenha as características do Santos para conseguirmos ser mais competitivos para 2025. Um elenco mais a ver com o Santos e ideias fundamentadas com tempo de trabalho.

Ecos da gestão José Carlos Peres

Caio Couto evita especular sobre a crise recente enfrentada pelo futebol feminino antes da sua chegada. Ele é o quarto treinador somente nesta temporada. Antes dele passaram pelas Sereias Bruno Silva, Kleiton Lima e Gláucio Carvalho, que havia sido seu auxiliar na passagem anterior.

No entanto, o profissional avalia que a perda de protagonismo do Santos dentro do futebol feminino é mais profunda, tendo começado na gestão do presidente José Carlos Peres. À época, o mandatário recém-eleito fez mudanças na gestão da categoria, inclusive, tendo demitido toda a comissão técnica por mensagem via WhatsApp. Para o lugar de Caio Couto, a nova diretoria contratou Emily Lima.

– O grande erro foi o corte lá atrás. Eu poderia sair do processo, mas o importante era, quem chegasse, continuar o processo da forma que vinha. Existia um modelo de jogo implementado, um início de categoria de base. Naquela oportunidade tínhamos diversas atletas sub-17 no elenco profissional. Uma delas está aqui, que é a Carla, que voltou. Mas tínhamos a Angelina (do Orlando Pride), que brilhou no Palmeiras, Jaqueline e Nicole Ramos, que estão no Corinthians. Algumas que faziam parte do elenco campeão brasileiro. Estavam inseridas no modelo. Eram jogadoras do Santos, baratas e que não foram utilizadas aqui. Jogadoras com mais idade daquela equipe, que estavam saindo, dariam espaço para essas atletas.

Santos, vice-campeão paulista de futebol feminino de 2016 — Foto: Natália de Oliveira
Santos, vice-campeão paulista de futebol feminino de 2016 — Foto: Natália de Oliveira

Em 96 partidas no comando das Sereias da Vila na primeira passagem, Caio Couto obteve 66 vitórias, 16 empates e 14 derrotas. Para ele, se o modelo desenvolvido naquele período tivesse seguido, o futebol feminino do Santos estaria mais estruturado, com uma categoria de base forte e formando atletas para a equipe profissional.

– Independente dos profissionais, já tinha uma linha de trabalho. Era mais inteligente continuar a linha de trabalho. Citei alguns exemplos de jogadoras que brilham pelo Brasil, que poderiam ter brilhado no Santos em outras temporadas, o Santos teria sido campeão e teríamos uma base na Baixada Santista há muito tempo. Coisa que, agora, é recente. Estaria sendo alimentado, com esse modelo de jogo implementado nas categorias de base e teríamos uma linha de formação. Assim como tem a categoria de base masculina, nós teríamos a categoria de base feminina servindo a equipe profissional. O grande erro da instituição Santos Futebol Clube foi lá atrás essa quebra, que faz com que o Santos, mais uma vez, tenha que se reconstruir.


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