Santos Fc – Clodoaldo

Guilherme Guarche, do Centro de Memória

Nascido no árido sertão sergipano, na pacata Itabaiana, a cidade mais populosa do interior de Sergipe, em um dia de domingo, 25 de setembro de 1949, hoje, Clodoaldo Tavares Santana, o filho de Vicente Santana e Petrina Tavares de Almeida completa 75 anos de vida.

Clodoaldo, que tem desde a infância o apelido de Corró (pequeno peixe dos açudes), na Copa do Mundo no México em 1970, nos minutos finais da partida decisiva diante da Itália, fez uma das mais bonitas jogadas naquela Copa que daria ao Selecionado Brasileiro o tão almejado Tricampeonato Mundial.

O gol, que teve o nascedouro com os quatro dribles seguidos dados pelo jovem médio-volante Clodoaldo, foi de autoria de Carlos Alberto Torres e fechou a goleada pelo placar de 4 a 1, servindo também para consagrar o camisa cinco na galeria dos melhores jogadores que vestiram não só a camisa do Santos como também da Seleção Brasileira.

No time do Barreiros o início de uma história vitoriosa

Por ter perdido seus pais muito cedo, sua infância foi muito difícil, e aos seis anos, mudou-se do Nordeste para a cidade de Praia Grande indo morar com uma irmã e com seu irmão de nome Antônio com quem conviveu por três anos.

Com a separação dos irmãos, Clodoaldo passou a residir em Santos, mais precisamente no Morro do São Bento. De 1959 a 1963 foi coroinha na Igreja do Valongo, ajudando o frei Cosme Damião nas missas.

Ainda bem menino encontrou na religião a proteção e a paz espiritual que tanto precisava. Aos 11 anos começou a trabalhar para se sustentar. A princípio na feira e em mercearias, carregando as compras para as pessoas. Na adolescência trabalhou na Companhia de Produtores de Armazéns Gerais, no bairro do Macuco.

A opção do futebol veio naturalmente, pela habilidade e desenvoltura que demonstrava na equipe amadora do Grêmio do Apito, administrado pelo árbitro Romualdo Arppi Filho, e depois na Sociedade Esportiva Barreiros.

No Barreiros, o time do bairro Chinês, foi dirigido pelo técnico Miro Caiçara e jogou com a camisa sete, dividindo o meio de campo com seu futuro parceiro no Santos, Walter Negreiros.

Ao vê-lo jogando na várzea santista, o treinador dos amadores do Santos, Ernesto Marques, técnico que revelou vários jogadores no time santista, o convidou para treinar no Alvinegro Praiano.

Nicolau Moran, diretor de futebol do Peixe na época, também foi muito importante em sua formação como atleta e como homem, pois conseguiu que ele morasse em um alojamento no Estádio Urbano Caldeira, a Vila mais famosa do mundo.

Em entrevista ao Centro de Memória do Santos FC, Clodoaldo falou sobre essa etapa no clube: “Na época o alojamento era uma sauna. Insuportável dormir lá e muitas vezes a gente passava as noites na arquibancada. Trazia os colchões para cima, porque nem ventilador tinha naquela época. Mas já tinha uma alimentação boa, moradia, e isso me facilitou, porque acordava e já tinha treino. Eu treinava em todas as posições, menos de goleiro. Veio o amador, me destaquei no campeonato juvenil e de aspirantes. Quando fui a revelação do aspirante, no final de 1966, o Santos já me levou para uma excursão”.

Clodoaldo era um médio-volante hábil, que marcava bem nos dois lados do campo, eficiente no apoio ao ataque e nos desarmes, e sem cometer faltas.

O herdeiro de Zito

Clodoaldo, jogou a primeira partida como profissional do Alvinegro em um amistoso na cidade de Blumenau, Santa Catarina, em 5 de junho de 1966. O Santos venceu por 2 a 0, com gols de Coutinho e Amauri. Naquele dia, o futuro herdeiro a camisa 5 do Alvinegro tinha exatamente 16 anos, oito meses e 11 dias.

O time dirigido por Luiz Alonso Perez, o Lula, que estava em seu último ano no clube formou com Laércio, Oberdan (Zé Carlos), Mauro, Haroldo e Geraldino; Joel Camargo (Clodoaldo) e Salomão; Amauri, Coutinho (Wilson), Toninho Guerreiro (Del Vecchio) e Abel.

Já em 1967, o jovem médio-volante tornou-se titular ao substituir o grande capitão José Ely Miranda, o Zito, de quem herdou a camisa cinco do Peixe. No Campeonato Paulista de 1967, Corró, com a camisa oito, jogou várias partidas ao lado de seu ídolo, Zito, que usava a cinco.

Nos vestiários do Pacaembu, antes de uma partida contra a Portuguesa de Desportos, na hora de distribuir as camisas, o grande capitão santista chamou o técnico Antônio Fernandes, o Antoninho, e falou: “A camisa cinco, a partir de hoje, é do moleque”.

Emocionado, sempre que se lembra desse episódio que marcou sua amizade com Zito, Corró se recorda de ter dito que procuraria honrar essa responsabilidade, pois substituir Zito uma responsabilidade enorme.

“Nunca me esqueci desse gesto do Zito, sempre tive um respeito e um carinho muito grande por ele como pessoa. Fomos campeões em 1967 logo de cara, depois veio 1968 e 1969, e fui me acostumando com a camisa do capitão.”

A convocação para a Seleção Brasileira, em 1968, e a participação na conquista do Mundial no México coroou sua trajetória com a camisa canarinho. Em 1972, outra marcante conquista na Seleção foi a Taça Independência.

Antes da Copa do Mundo da Alemanha em 1974, o valente médio santista foi cortado do grupo às vésperas do Mundial. Em 1978, quando ganhou seu último título no Santos, liderou um grupo de garotos conhecido como “Meninos da Vila”.

Ele vestiu pela última vez a camisa do time que tanto ama no dia 26 de janeiro de 1980, na Vila Belmiro, na derrota para a Seleção da Romênia por 1 a 0. Nesse amistoso, que teve um público de 24 204 espectadores, escalado por seu amigo José Macia, o Pepe, o Santos formou com Marolla, Nelsinho Baptista, Joãozinho, Neto e Paulinho (Washington); Clodoaldo (Cláudio Gaúcho), Carlos Silva e Pita; Nilton Batata (Serginho), Aluísio (Rubens Feijão) e João Paulo.

Ao todo, entre os anos de 1966 e 1980, Corró defendeu o onze praiano em 508 partidas e marcou 14 gols. É o sétimo jogador que mais vezes defendeu o Peixe. Pela Seleção Brasileira, o craque, dono da camisa cinco, jogou 51 partidas e marcou apenas três gols, um deles foi o inesquecível gol de empate na semifinal contra o Uruguai, na vitória brasileira por 3 a 1.

Técnico e dirigente

Em 1981 Corró jogou três partidas pela equipe do Nacional, de Manaus e teria que jogar uma partida contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, na Vila Belmiro. Quando chegou o momento de entrar em campo, ele tirou a camisa do time amazonense e, com lágrimas nos olhos, disse que não jogaria contra o seu time de coração.

Também jogou nos Estados Unidos em 1982, mas problemas no joelho anteciparam sua despedida do esporte. Nesse ano se despediu da carreira após atuar na segunda liga americana pela equipe do New York United.

Ainda em 1982 aceitou o convite da diretoria presidida por Rubens Quintas e dirigiu o Santos em substituição ao técnico Daltro Menezes. Em 23 partidas obteve 10 vitórias, seis empates e sete derrotas.

A partir de 1995, na gestão do presidente Samir Abdul Hack (*26/08/1941 +29/08/2016), Corró exerceu as funções de diretor de futebol e vice-presidente do clube. Também serviu ao Santos como gerente de futebol profissional em 2009.

Hoje, Corró, um ser humano sem inimigos faz parte do grupo dos Ídolos Eternos do Santos. O sergipano-santista reside na Avenida da Praia, no bairro da Aparecida. Era casado desde 1974 com Clery Santana e pai de Claudine e da modelo internacional, a jovem Simone Tavares. Clery Santana falecida no ano de 2023, lhe deu o neto Vitor Santana, que jogou nas categorias de base do Santos.

Títulos conquistados:

1966 – Torneio de Nova York

1967 – Campeão Paulista 10º

Triangular Roma / Florença

Fita Azul do Futebol Brasileiro – (11 jogos invictos)

1968 – Bicampeão Paulista 11º

Hexacampeão Brasileiro – Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1ª Taça de Prata)

Torneio da Amazônia

Torneio Octogonal do Chile (Nicolau Moran)

Torneio Pentagonal de Buenos Aires (Argentina)

Campeão da Recopa Sul-Americana Interclubes 68/69

1969 – Campeão da Recopa Mundial Interclubes

Tricampeão Paulista 12º

Campeão do Torneio de Cuiabá

1970 – Campeão do Torneio Hexagonal do Chile

Campeão do Triangular da Guatemala

Campeão da Taça Cidade de São Paulo

1971 – Torneio de Kingston / Jamaica

1972 – Bi Fita Azul do Futebol Brasileiro (17 jogos invictos)

1973 – Tri Fita Azul do Brasileiro (10 jogos invictos) 

Campeão Paulista 13º

1975 – Torneio Governador do estado SP (Laudo Natel)

Torneio Governador da Bahia (Roberto Santos)

1977 – Torneio Hexagonal do Chile

Torneio Triangular León/México

1978 – Campeão Paulista 14º

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