MILTON TEIXEIRA, O PRESIDENTE CAMPEÃO PAULISTA EM 1984
Santos FC – Teixeira
Guilherme Guarche do Centro de Memoria
No mês de outubro de 1930, mês em que a chamada República Velha chegava ao fim na política brasileira, nascia no dia 16, uma quinta-feira, no litoral norte paulista, na bela Caraguatatuba, um menino que recebeu dos pais Nicolau Francisco Teixeira e Benedicta Rodrigues Teixeira, o nome de Milton Teixeira.
Após o falecimento de sua mãe dona Benedicta, ele se mudou para Santos, onde morou até o fim de sua vida, tornando-se uma das personalidades mais importantes da cidade tanto na educação, na cultura como também nos esportes.
Mal sabia ele que no futuro seu destino já estava traçado e que ele teria como missão principal, a partir do ano de 1976, ajudar o clube de Vila Belmiro que atravessava uma de suas piores crises financeiras desde sua existência.
Sua paixão desmedida pelo Alvinegro da Vila Belmiro começou por ocasião de um jogo no Estádio do Pacaembu, no dia 31 de maio de 1942, pelo Campeonato Paulista, contra a equipe do São Paulo, oportunidade em que assistia à partida com seu pai, torcedor assumido do tricolor do Morumbi, que na época possuía um jogador que foi a negociação mais cara do futebol na época: Leônidas da Silva.
O garoto Milton tinha 12 anos e via a primeira partida do time que era dirigido por uma junta governativa, e pelo qual décadas após, ele se tornaria um de seus melhores e mais prestativos presidentes.
O time santista formou nesse distante encontro com: Capuano, Neves e Gradim; Figueira, Elesbão e Ayala; Zoca, Guilherme, Emédio, Antoninho e Ruy. O técnico era Armando Erbesti. No lugar de Capuano que saiu machucado de campo assumiu a meta, o centroavante Guilherme.
Aos 27 minutos da primeira etapa, o ponta-esquerda são-paulino, o gaúcho Lino Mancilla, apelidado de Pardal, desferiu de forma covarde, um pontapé na cabeça do goleiro santista, o argentino Antônio Angel Capuano, que estreava no time santista naquele dia.
Em razão do lance, o goleiro saiu desacordado do estádio e foi direto para o Hospital Santa Catarina, na capital paulista sendo depois transferido para o Hospital Beneficência Portuguesa em Santos, onde permaneceu por vários dias, e nunca mais voltou a jogar futebol.
Com a camisa do Alvinegro o desafortunado goleiro argentino jogou apenas essa partida, e pela péssima conduta do atacante são-paulino, o garoto solidário ao goleiro machucado tornou-se um novo torcedor santista, contrariando o pai que queria vê-lo como torcedor do tricolor do Morumbi. Perdeu o Peixe um promissor goleiro e ganhou um fanático torcedor e posteriormente um exemplar e competente dirigente.
O goleiro Angel Capuano que chegou ao Santos vindo do Fluminense, onde jogou 29 partidas de 1940 a 1942, retornou a sua terra natal Buenos Aires na Argentina, em que nasceu no dia 25 de janeiro de 1910, e se tornou professor diplomado pela Escola Nacional de Educação Física e faleceu em Mar Del Plata, em 1958.
Milton Teixeira teve sua rica história no Alvinegro mais famoso do mundo com sua admissão no dia 21 de outubro de 1958. O primeiro cargo no clube foi o de vice-presidente de futebol na gestão de Modesto Roma nos anos de 1976/77, e posteriormente foi eleito presidente da Diretoria Executiva durante os anos de 1984 a 1986, e presidente do Conselho Deliberativo no período de 1989 a 1992.
No ano de 1983 aceitou o convite do presidente Ernesto Vieira da Silva, já que naquele ano o Santos não disputaria o Campeonato Brasileiro porque só os seis primeiros colocados no Campeonato Paulista se classificavam para a Taça de Ouro, o Santos jogaria a Taça de Prata. Mas graças a Milton Teixeira que montou um time contratando com recursos próprios, recursos esses que quando saiu da presidência em 1986, deixou como doação ao clube.
Graças ao seu empenho a CBF convidou o Santos após ouvir dele que seria montado um time forte e competitivo para a disputa. Ele contratou Serginho Chulapa, Paulo Isidoro, Dema, juntando-os a Pita e João, Lino, Joãozinho, Marolla e Márcio Rossini, dentre outros craques do elenco que tinha como técnico Chico Formiga. O resultado foi que o time santista se sagrou vice-campeão brasileiro de 1983.
Prova da qualidade técnica do time é que no ano seguinte já contanto com o goleiro uruguaio Rodolfo Rodrigues, Paulo Robson, Humberto, Zé Sérgio, com Carlos Castilho no comando, o clube conquistou pela 15ª vez o tão desejado título de Campeão Paulista muito merecidamente, naquele inesquecível domingo, dia 2 de dezembro perante um público de 111.345 espectadores.
Durante o período em que presidiu o Santos, de janeiro de 1984 a dezembro de 1986, o time santista disputou 230 partidas tendo vencido 99 empatado 66 e perdido 65 partidas.
A imagem do presidente santista correndo na pista do estádio do Morumbi, vibrando com a conquista do Título Paulista de 1984 ainda permanece viva na mente dos torcedores Alvinegros que estiveram presentes no estádio do São Paulo.
Colaborou sem cargos na diretoria e o clube foi vice-campeão brasileiro em 1983, no ano seguinte como Presidente ganhou o Torneio Início de 1984, a Taça dos Invictos (Gazeta Esportiva), o Campeonato Paulista pela 15ª vez em 1984, e a Copa Kirin, no Japão no ano de 1985.
Milton Teixeira quando veio morar em Santos, ainda menino, estudou no Grupo Escolar Barnabé, no Colégio José Bonifácio e na Instituição Municipal de Comércio de Santos. Já com 20 anos ingressou no Banco do Brasil, tornou-se professor, ingressou no Ministério da Fazenda trabalhando em Itajaí como Agente Fiscal de Tributos Federais.
Depois pediu transferência para a Alfândega em Santos, mas acabou abandonando o excelente emprego, adquirindo a Escola Primária Santa Cecília, em 1961, na Avenida Rodrigues Alves, 332, no Macuco.
Criando os cursos Ginasial, Colegial e Técnico de Contabilidade na escola que ficava na Rua Luiz de Camões, na Encruzilhada, depois no bairro do Boqueirão fundou o Complexo Educacional Santa Cecília, onde criou o primeiro curso noturno de Engenharia na Baixada Santista, tendo a colaboração da mulher Nilza Pirilo Teixeira e da cunhada a professora Emília Maria Pirilo.
O professor, bacharel em Direito, jornalista, e escritor Milton Teixeira casou duas vezes, no primeiro casamento com Nilza Pirilo Teixeira teve quatro filhos, Sílvia, Lúcia, Cecília e Marcelo Pirilo Teixeira. E no segundo matrimônio com Ahmadi Abou Arabi Teixeira teve três filhos, Milton Teixeira Filho, Mohamad Teixeira e Munir Teixeira. É autor de 12 livros além de ter presidido a Academia Santista de Letras de 1980 a 1982.
O eclético Milton Teixeira foi Presidente da Liga Santista de Voleibol, nadador, diretor do Clube Atlético Santista, e foi também campeão de bola ao cesto juvenil. Foi vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares – ANUP. Foi Diretor e Delegado Regional do SEMESP. Foi Presidente do Conselho Administrativo da Pinacoteca Benedicto Calixto de 2002 a 2006, onde é Presidente vitalício. Fez parte da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio como Presidente do Conselho Administrativo entre os anos de 2002 a 2006.
“Com apenas 17 anos eu viajei para a Europa com a delegação da equipe de Voleibol, chefiada por Milton Teixeira, na época presidente da Liga Santista de Voleibol”. Palavras do ex-jogador de Basquete e Voleibol admirador do dirigente do Clube Atlético Santista durante muitos anos, José Oswaldo da Fonseca Marcelino, o Negrelli, ex-jogador da Seleção Brasileira de Voleibol e professor da Faculdade de Educação Física e Esporte da Unisanta.
Na ocasião do falecimento, o então prefeito de Santos João Paulo Tavares Papa assim se expressou: “O legado de Milton Teixeira para Santos e região é inestimável. Respeitado pela inteligência, sensibilidade e visão de futuro, se destacou por criar uma instituição de ensino que, ao longo dos últimos anos, vem educando crianças e jovens e forjando excelentes profissionais. Sempre com o apoio da família, promoveu e incentivou o esporte, cultura e a formação integral do ser humano. É com pesar que os santistas se despedem hoje do ilustre Milton Teixeira”.
“Ele, em todos os momentos, na família, nos empreendimentos aqui na Universidade, no Santos, nos momentos de caridade, foi um homem amoroso. Então, são qualidades que realmente eu tenho orgulho como filho de tê-lo como pai, de ter vivido ao lado dele todo esse tempo” – destacou Marcelo Teixeira, filho de Milton e presidente do Peixe.
Antes de morrer, o intelectual Milton Teixeira exercia o cargo de Chanceler da Universidade Santa Cecília – UNISANTA.
Seu óbito ocorreu na madrugada do dia 10/09/2012 seu corpo foi velado no Ginásio de Esportes da Unisanta e o enterro no cemitério do Paquetá.
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