Ficha Técnica:

  • Nome: Marcelo Pirilo Teixeira
  • Nascimento: 28 de abril de 1964 (60 anos), em Santos-SP
  • Carreira: Empresário, pró-reitor da Universidade Santa Cecília, diretor-presidente do Sistema Santa Cecília de Rádio e Televisão Educativa e dirigente esportivo
  • Títulos no Santos: Campeonato Paulista (2006 e 2007), Série A do Campeonato Brasileiro (2002 e 2004) e Série B do Campeonato Brasileiro (2024)

Retorno ao Futebol

Como foi o retorno ao futebol depois de tanto tempo longe?

Apesar de ter ficado afastado do futebol, continuei envolvido com o esporte, especialmente através da Universidade Santa Cecília, que se tornou um exemplo de profissionalização em várias modalidades. Ao retornar ao Santos, mantive meu interesse em aprofundar conhecimentos, buscando inovação. O futebol, embora apegado a métodos tradicionais, ainda vê o Santos como um modelo, mesmo que se tenha desviado de sua filosofia original. A nossa base foi emblemática nas décadas de 1950 e 1960, contribuindo para o cenário do futebol brasileiro com grandes conquistas. Estou de volta para focar na formação de atletas, mas com uma abordagem profissional. Pretendemos criar uma estrutura organizacional com novas diretrizes que garantam bons resultados.

O Futebol Atual

Do que o senhor mais sente falta no futebol de hoje?

O futebol romântico, definitivamente, ficou no passado e era necessário que assim fosse. Hoje, o futebol é muito mais profissional, e a adaptação é crucial. Eu me ajusto bem a qualquer sistema e valorizo a inclusão de colaboradores santistas, evitando um isolamento autoritário. Busco integrar conselheiros, associados, torcedores, colaboradores e profissionais no processo de gestão. Tudo isso faz parte de um contexto maior. Não sinto falta do passado; estou plenamente adaptado ao presente.

Poderia ter permanecido em uma posição confortável, apenas torcendo e vibrando nas arquibancadas, mas a realidade dos últimos anos era angustiante para nós, santistas. Decidi que não podia viver apenas das glórias passadas, como os títulos brasileiros e paulistas, ou da fama de revelar talentos. Precisávamos de um novo caminho, e conseguimos unir muitos alvinegros para implementar um projeto inovador em comparação aos anos anteriores.

— Eu podia estar numa zona de conforto, podia estar exatamente na arquibancada, gritando, torcendo, vibrando, ou triste, como eu estava, amargurado. A cada jogo, nestes últimos anos, era terrível, era um tormento para nós, santistas. Então, chegou o momento, eu falei: “Não, eu não posso viver desse passado de bicampeão brasileiro, de bicampeão paulista, de revelador de talentos, preciso fazer algo diferente”. E ali conseguimos reunir um bom número de alvinegros e hoje estamos fazendo uma implantação de um trabalho diferente dos últimos anos.

Recentemente, o senhor deu uma entrevista depois de um evento da CBF em tom muito otimista. Porém, dias depois começaram a sair notícias e comentários dando conta que, na verdade, o senhor estava “cozinhando” a construtora e que não estava tão interessado assim no projeto. Existe essa possibilidade de não sair o acordo com a WTorre? 
— A única coisa que nós nos expressamos de forma preocupante foi que recebemos um cronograma da WTorre já prevendo dezembro como o início da comercialização das cadeiras e dos camarotes. E insistimos para que a WTorre pudesse cumprir esse prazo e, ao cumprir o prazo, os documentos estariam entregues. Os documentos entre os escritórios ainda não tinham sido entregues. Então, retardamos mais uma vez esse prazo. Eu já tive alternativas para acabar com a parceria com a WTorre.  O Santos já tem uma série de questões pelas quais poderia romper com a WTorre. Não porque a WTorre não cumpre, é porque não tivemos a maneira como estava sendo programada para que a nova arena acontecesse. Se nós, que já tivemos chances para isso acontecer, não decidimos assim, é porque a única vontade que hoje existe do presidente, e para mim, particularmente, a única alternativa viável de uma nova arena é com a WTorre. 

— Tudo o que se fala diferente: o Marcelo Teixeira está cozinhando, Marcelo Teixeira quer outra alternativa, Marcelo Teixeira quer outra… Ainda na gestão do presidente Rueda, que existia uma dificuldade para se chegar a um consenso do orçamento, eu levei sete proprietários de construtoras da Baixada Santista à Vila Belmiro, para que eles mostrassem a experiência deles para a nova arena. Os sete construtores presentes com o Rueda disseram: “Pelo que o senhor está expondo, da maneira como está o projeto, a melhor alternativa é com a WTorre”. Então, não existe, por parte do Marcelo Teixeira, nem lá atrás e nem hoje como presidente, outra ideia a não ser o projeto existente. 

Marcelo Teixeira durante a entrevista ao ge para o Abre Aspas — Foto: Marcos Ribolli

Marcelo Teixeira durante a entrevista ao ge para o Abre Aspas — Foto: Marcos Ribolli

Dá para passar um prazo ao torcedor?
— Não vou falar. Eu não vou falar nem mais em reunião, nem em prazo, porque elas estão acontecendo e eu espero que isso aconteça no mais rápido possível. Eu já estou mudando até as dependências administrativas para outro lugar. E um exemplo: nós podemos fazer o início da comercialização das propriedades, mas nós não poderíamos nunca tomar a decisão de demolir a Vila Belmiro sem primeiro estar com tudo muito bem documentado. E, num outro momento, sem ter alternativas de onde jogar. Você precisa ter a definição que é o estádio em São Paulo, opção do Santos, para mandar os seus jogos. Isso é fundamental. 

Ao longo de 2024, vimos o senhor muito próximo da Torcida Jovem. Para o senhor, como deve ser a relação do presidente e do clube com as torcidas organizadas?
— Eu venho de arquibancada. Sou daqueles que acompanhava o Santos em caravana. Às vezes eu ia na Tusa (Torcida Unida Santista). Enganava meu pai, falava que eu estava brincando com o Takashi, um amigo que eu tinha, e ficava quase todo dia no clube. Meu pai acreditava, a minha mãe, também, fugíamos e íamos lá na Tusa assistir aos jogos fora. Tinha aquela linha de frente às vezes que ia na porrada, mas eu ficava mais atrás para não acontecer nada comigo (risos). É aquela relação de respeito que deve haver, de independência, não tem nenhum tipo de benefício. Você veja que a gente tem essa relação, eles vão lá, abrem faixas (de protesto), lógico, tem que abrir mesmo, exigir. Se estão certos, se estão errados, se estão radicais ou não, são atitudes da torcida, você tem que respeitar.

Marcelo Teixeira, presidente do Santos, balança bandeira da Torcida Jovem na arquibancada do Pacaembu — Foto: Raul Baretta/ Santos FC

Marcelo Teixeira, presidente do Santos, balança bandeira da Torcida Jovem na arquibancada do Pacaembu — Foto: Raul Baretta/ Santos FC

Existem interesses políticos? É orquestrado? 
— Existe algo por trás dessas coisas (críticas nas redes sociais). Esse tipo de orquestração, esse tipo de pressão, essas coisas de ficar difamando imagem das pessoas, querer criticar a gestão de uma maneira assim… Cometemos erros? Lógico, comete-se erro, cometemos a indicação de uma contratação ou outra. Veja que nós contratamos jogadores que são revelações. Ninguém conhecia o (Gabriel) Brazão. É um processo em evolução, o (torcedor) menos apaixonado vai dizer: vamos dar um tempo para esse cara mostrar onde ele realmente vai chegar, qual é o objetivo dele dentro do processo atual. Aí sim, pelos erros e pelos acertos, nós vamos ser avaliados e as decisões serão adotadas da melhor maneira. Onde? Na urna. Agora, avaliar a gestão do Marcelo em 11 meses é humanamente impossível. 

— E mesmo assim, a avaliação que seja feita da gestão Marcelo Teixeira, hoje, é positiva. Porque as metas e os objetivos foram alcançados. Qual é a avaliação negativa dentro de um processo como esse? Não vejo nenhum. Mas, poxa vida, o Marcelo fez loucuras, fez investimentos que o Santos não possuía (condições). Ao contrário, o clube hoje fechou o último trimestre, em setembro, com R$ 45 milhões de superávit da minha gestão, de janeiro a setembro de 2024. Por que ele (o resultado financeiro) é negativo? Por causa do passado que o Santos tem, daquilo que nós herdamos de despesas, que são dívidas naturais, que nós vamos ter que cumprir, como estamos cumprindo. Se não fossem os três transfer-bans que nós pagamos, se não fossem os outros que foram evitados, o Santos estaria com R$ 45 milhões de superávit.

No jogo em que o Santos levantou a taça da Série B, a torcida levou faixas e fez coro na Vila no combate ao racismo. Foi uma clara demonstração de insatisfação ao Adilsinho (Adilson Durante Filho), que chegou a ser expulso do quadro associativo por falas racistas. Dias antes dessa manifestação, o senhor e o Adilsinho foram filmados nos corredores Vila batendo boca com alguns torcedores. Qual é o posicionamento do senhor sobre esse personagem dos bastidores do clube?
— O pai do Adilson colaborou na gestão do meu pai, colaborou na minha gestão também. O Adilsinho é uma pessoa que teve uma ligação com a minha família, tem uma ligação muito próxima com o Marcelinho. No início da gestão, em janeiro, ele ajudou no intuito de agilizar parte da reforma (do CT Rei Pelé), participou diretamente desses processos, mas ele não tem nenhuma função hoje no Conselho Deliberativo, não tem nenhuma função hoje na questão diretiva.

— Ele (Adilsinho) fez, respondeu por isso e acabou, para mim, ponto final. Mas eu tenho que zelar também, lógico, por questões do clube. Ele não tem participado diretamente do dia a dia. Naquele episódio envolvendo o jogo da Vila Belmiro, ele estava com o filho. No fim do jogo, ele veio cumprimentar pela classificação e aconteceram aqueles episódios que foram superados. Para mim, em termos de clube, em termos de participação do Adilson, não há nada o que comentar. Isso me incomoda bastante, porque eu tenho respeito pela família, isso é natural, mas sei dividir bem essa situação, ele também sabe, compreende. Resolvemos bem essa situação, que não é de hoje. O episódio da Vila foi isolado.

Recentemente completou-se 20 anos do título brasileiro do Santos, e um jogador ficou marcado naquela campanha, o Robinho. Ele é protagonista num momento de virada, e acho que num momento fundamental para sua trajetória também. Mas, ao mesmo tempo, em que…
— Não quero cortar sua pergunta. Essa geração é uma geração que mudou o rumo e a história do Santos. Mudou radicalmente. Se hoje nós estamos aqui e fomos campeões da Libertadores 2011, é graças à geração Robinho e Diego, que resgatou a autoestima de quase 20 anos sem título. Aquela geração conseguiu fazer os trabalhos que, aí sim, a diretoria muito bem explorou, no aspecto de marketing, no aspecto financeiro, todos os aspectos de atrair novos meninos, tudo, tudo deve-se àquela geração. Se você perguntar aos santistas se a conquista do título do Campeonato Brasileiro de 2002 é tão ou mais significativa do que da Libertadores de 2011, as pessoas vão responder o Campeonato Brasileiro de 2002. Ele (Robinho) é o protagonista.

Robinho Corinthians Santos 2002 — Foto: Epitácio Pessoa / Estadão Conteúdo

Robinho Corinthians Santos 2002 — Foto: Epitácio Pessoa / Estadão Conteúdo

Como o Santos lida com esse ídolo hoje e como se recorda de todas aquelas conquistas?
 Lida muito bem. É a história. A história esportiva, ela não é apagada. Se você for lá mostrar quem fez o gol de 2002, do terceiro gol, quem foi? Foi o Léo. Quem fez a jogada do gol do Léo? O Robinho. Você não pode pegar essa imagem, tirar o Robinho e dizer: “não, você não participou desse momento”. Ele participou desse momento, faz parte dessa história, tem a importância dele. Os dois meninos, o pretinho e o branquinho, Robinho e Diego, eles marcaram a geração do futebol brasileiro. O Santos ganhou adeptos de torcidas graças aos dois, com aquela irreverência, com aquela linguagem, a maneira deles, o menino e a menina se identificaram com os dois. Então, o Robinho tem uma história esportiva no Santos Futebol Clube. Está lá registrado no memorial como uma das maiores conquistas em termos nacionais. Ponto.

— O que ele fez da sua vida e da maneira como teve as suas atitudes, ele está respondendo fora das quatro linhas. Vou além, vou só te dar um exemplo prático. Essa discussão já aconteceu com o maior de todos os tempos. Se discutiu assim, como o Pelé não reconhece a sua filha? Como? É um absurdo acontecer um negócio desse. Eu respondia, o Edson não responde pela filha. O Pelé fala sobre o futebol.

É que nesse caso estamos falando de um ex-atleta que foi condenado e está cumprindo pena. A minha dúvida, uma vez que o Robinho deixe a detenção, é possível reaproximar esse ídolo, frequentar, por exemplo, as dependências do Santos?
 Aí eu já não sei responder. Com toda sinceridade, eu não vou conseguir responder para vocês. Tudo tem o seu tempo. Eu não conheço a história, não posso falar. Eu conheço ele, conviveu comigo. Fez parte da minha história. Então é difícil falar com um menino que eu vi crescer, né? Hoje vejo o filho despontando no sub-17, é muito difícil. A superação que esse menino (Juninho, atacante das categorias de base) está tendo é algo muito diferenciado. Eu não sei se qualquer um conseguiria superar a dor, a mágoa que o filho do Robinho passou e ele hoje é um dos grandes talentos, provando, assim, um poder, uma personalidade, uma maneira alegre de estar. Sabemos que ele tem a sua dor própria, mas vejo um futuro promissor.

— Então, você avaliar a vida de um homem, não sou capaz de fazer isso, não serei capaz de medir, nem de julgar ninguém. A Justiça julgou. Tomara que tenha sido a maior e melhor decisão, a mais justa nesse caso. Se cometeu esse crime, ele tem que pagar. Vai pagar como está pagando. Mas apagar aquilo que eu tenha de imagem do menino Robinho, daquilo que ele proporcionou de alegria ao Santos, isso é impossível.

Marcelo Teixeira se emociona ao falar de Robinho — Foto: Marcos Ribolli

Marcelo Teixeira se emociona ao falar de Robinho — Foto: Marcos Ribolli

Como o senhor vê essa reorganização do futebol brasileiro buscando uma liga?
— Cheguei um pouco tarde para esse assunto. Se eu tivesse chegado mais cedo, teríamos discutido propriedades depois da formação de uma liga. Nós entendemos que deveríamos discutir antes e acabou tendo essa divisão ruim para o futebol brasileiro. Todos devem se respeitar remando numa única direção. Ainda tenho esperança de uma única liga. Já tivemos isso no passado. Tínhamos o Clube dos Treze, prejudicado por vaidades, porque sentávamos para discutir na mesa e um dizia que o árbitro prejudicou, o outro que teve a contratação roubada e outro queria ganhar mais. Mas acho que agora estamos mais amadurecidos. Eu acredito que a gente consiga fazer uma única liga.

Ao longo da temporada, o Santos tentou mandar jogos da Série B em São Paulo. Os rivais paulistas não quiseram emprestar seus estádios? 
— As respostas que nos foram dadas eram por causa de manutenções ou situações de eventos ou até mesmo a Polícia, com a recomendação do Ministério Público em evitar encontros entre torcidas. Isso tudo dificultou bastante. Não jogamos no Allianz, mas tivemos a chance nas últimas rodadas. Conversamos com o Palmeiras e houve essa possibilidade. Então vejo a dificuldade de voltar a jogar nos estádios deles no futuro. Mas a preferência do Santos em São Paulo será o Pacaembu. As tratativas com a WTorre estão praticamente encerradas.

Como é hoje sua relação com os presidentes de Corinthians, Palmeiras e São Paulo?
— Liguei para o presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, para o Julio Casares (presidente do São Paulo), Augusto Melo (Corinthians) nessa situação envolvendo os critérios de descenso do Brasileirão. Acredito que é uma regra que precisa ser revista imediatamente. Veja um exemplo claro: o Atlético-MG disputou a final da Libertadores e da Copa do Brasil e teve chance até a última rodada de ser rebaixado. Isso não é um problema de gestão, é um problema de calendário. É um problema de uma série de outras situações que refletem na tabela de um campeonato tão importante.

— Ainda não tive a chance de conversar com Leila Pereira, mas eu acredito que devemos ter uma mudança nesse critério. É tradição, história de clubes brasileiros. Não podemos admitir que um clube dispute, como foi com o Fluminense, nas últimas posições, podendo cair e tendo vencido a Libertadores no ano passado. Por mais que haja composições de bons grupos, você vai priorizar uma competição. Não tenho ainda ideia de critérios, mas com certeza acredito que o mais correto seria rebaixar apenas dois. No Conselho Técnico, aventou-se a possibilidade de serem três rebaixados. Eu acho que se fossem três, teria de ter um confronto.

O senhor sente a adesão a essa ideia por parte dos outros clubes?
— Muito. Com o Corinthians e São Paulo eu conversei, a adesão foi imediata. Estou apenas abordando aqui algo que seja possível. Mas quatro clubes hoje descendo do Campeonato Brasileiro é algo de um critério bem ingrato, muito injusto com a tradição e a história dos grandes clubes do futebol brasileiro.

E ninguém quis jogador do Santos nesse meio do caminho?
— Começou agora especulação pelo Soteldo. Já tem algumas trocas, envolvimento de jogadores do atual elenco. Agora, pelo menos, estamos respirando um pouco. Nós estávamos no fundo do poço. Agora, chegamos no zero. Não estamos em nenhum outro lugar a não ser o zero. Aqui nós vamos continuar crescendo. Essa é a expectativa lógica que tem que existir, mas a situação ainda é gravíssima. A exploração financeira do Santos mudou por causa, primeiro, pelo sistema implantado no clube, pelos resultados obtidos em três meses, provamos que fizemos o exercício certo, a lição de casa. Fomos disputar a final do Campeonato Paulista. E não é sorte ou azar, é trabalho. Por detalhes não vencemos um rival que já está há mais anos trabalhando e merecendo de títulos. E depois alcançamos o outro objetivo.

Presidente do Santos abre o jogo sobre a temporada 2024 e faz planos para o futuro do clube — Foto: Marcos Ribolli

Presidente do Santos abre o jogo sobre a temporada 2024 e faz planos para o futuro do clube — Foto: Marcos Ribolli

— A régua com o Marcelo Teixeira sempre é maior, né? Agora, já estão dizendo: 2025 tem que ser campeão. Vamos ter que ir para a Libertadores. A régua já está bem acima. Só que a realidade do Santos ainda não é essa. Mas, talvez, pela imagem que a gente tenha de história, transmita esse otimismo e essa esperança para o torcedor.

E o que o torcedor tem que esperar?  
— Ainda é uma dura a realidade. Duríssima. O Santos toma as suas atitudes e ações com responsabilidade. Nós estamos apagando incêndio. Nós estávamos até então numa maca de UTI cheia de aparelhos. Tiramos esses aparelhos, já respiramos sozinhos. O Santos tinha uma proposta clara para 2024: chegar à final do Campeonato Paulista. Chegamos. Alcançar a vaga da Copa do Brasil. Alcançamos. Ter acesso à Série A como objetivo posterior, título da Série B. Para 2025, eu não posso vir aqui e dizer que vai ser campeão brasileiro. Não posso, porque é algo impossível. Então, vai continuar tendo o mesmo rigor nas finanças, as mesmas decisões em termos de contratações. Tem uma base. Não é uma base de um grupo que caiu, não. É a base de um grupo que chegou à final do Campeonato Paulista e uma base de um grupo que foi campeão da Série B do Brasileiro, título nacional. Ah, mas essa base é suficiente? Não, ela não será suficiente, ela terá que ter as suas mudanças naturais, necessárias. O Santos tem um orçamento de 2025, fará todo o esforço na busca de reforços, para remodelar esse grupo. 

— Nós vamos ter um outro grupo para quê? Para disputar a Copa do Brasil e a Série A. Com vistas a quê? A alcançar os novos objetivos. Objetivos que são ousados. Ousados, diferentes por quê? Por causa da minha própria história, do Santos, tem que ser diferente, mas sempre com muito cuidado, muita cautela, porque o endividamento já existe. O equacionamento nós estamos fazendo. Nós vamos ter um caminho que está sendo pavimentado, um caminho duradouro, mas não é também tão longo a ponto de você dizer, então o Santos não vai conquistar nada nunca. Não, o time já conquistou em 24. Conquistou o quê? O que estava dentro do seu limite. Tem que ser realista.

Esse torcedor não recebe sinais trocados? O senhor vem agora com um discurso que me parece muito condizente com a realidade do Santos, mas ao mesmo tempo, o torcedor abre o ge e vê notícia de que o Neymar pode voltar, de que o Gabigol está na pauta…
— O Marcelo Teixeira está solucionando algo que foi uma tristeza. Então não pode ser imputada a nós nenhuma responsabilidade daquilo que aconteceu. É algo que está nítido. Qual é a história do Santos até 23? Triste. O pior capítulo da nossa história. Qual é o capítulo a partir de 24? Finalista do Campeonato Paulista e campeão do Campeonato Nacional da Série B. Mas, poxa, precisar se vangloriar por isso? Bom, eu não estou me vangloriando por isso. É a realidade. Dura, nua, mas é a realidade. Para 25, quando você cria uma expectativa de uma formação do grupo, vai criar quando você cita o Neymar. Eu nunca disse que vamos contratar o Neymar. Eu disse que acompanhamos o processo relacionado ao Neymar. Se existir algum tipo de dificuldade, do clube que está com o contrato em vigência e haja um acordo entre clube árabe e o staff e o contrato de jogador, o Santos pode se manifestar. Está pronto o projeto para o Neymar. Pronto dentro do quê? Dentro daquilo que é pertinente. 

Neymar com a taça do Paulistão na Vila Belmiro antes da final Santos x Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

Neymar com a taça do Paulistão na Vila Belmiro antes da final Santos x Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

— Como o Gabriel. O Santos tem condições de pagar o Neymar ou o Gabriel? Lógico que não. O orçamento está ali. Mas o Santos faz o que quando nós trouxemos a Marta do futebol feminino em 2009, que não existia nem parceiros, não existia nem receita própria, nada como até hoje o futebol feminino patina com isso, mas nós fomos buscar a Marta, trouxemos a Cristiane, custo zero ao Santos. Exatamente o que você pode fazer. reeditar, hoje, contratando o Gabriel. Você tem, na busca de projetos com parceiros, já foi apresentado isso, inclusive, ao próprio Gabriel e ao staff do pai do jogador. Eles têm conhecimento, estão com a proposta em mãos, para ser decidida. Talvez, não sei se chegamos mais cedo, chegamos mais tarde, não importa. O Santos fez a sua situação inerente à formação de um grupo.

— Você está selecionando um ou dois jogadores que tenham apego ao mercado, que tem como haver retorno dos nossos parceiros, diferente do que possa formar nos demais jogadores do elenco. Lógico que não será um nível como esse. Mas você tem que ter o atrevimento de trazer uma ou duas peças que façam a diferença do projeto do Santos de 25 e 26. Vai ser concretizado o planejamento do Santos, conta com Neymar e Gabriel? Lógico que não. O planejamento de 25 é um, mas não impede de que caso haja um acerto com um ou outro, você tenha condições de contar com eles no plantel e naturalmente ter o retorno, em várias situações, da presença de um jogador como o Gabriel no elenco.

Gabigol beija a taça da Libertadores de 2019 — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Gabigol beija a taça da Libertadores de 2019 — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Não teve resposta do pai do Gabriel?
— Não estou nem otimista, nem pessimista. Eu aguardo. Se conseguirmos, ótimo, né? Seria importante para nós, em termos de ter o Menino da Vila identificado com o clube. Se não acontecer, nós vamos formar de novo um grupo independentemente da presença dele ou não. 

Dentro desse cenário de dificuldades, um bom exemplo é o Botafogo. Um clube que sofria muito, mas hoje é SAF e referência no Brasil. Nesse sentido, o senhor não acha que seria uma forma de encurtar esse retorno às glórias do Santos? 
— A SAF não depende do Marcelo Teixeira. É uma decisão que está sendo estudada pelo Conselho Deliberativo. Há necessidade de uma mudança estatutária, que é o que está acontecendo agora. Quem vai decidir é o quadro associativo no momento próprio. Eu só entendo, e a minha proposta junto ao quadro associativo foi, primeiro, colocar uma gestão. É o que nós estamos fazendo. Nós não poderíamos imaginar qualquer negociação acontecer, mesmo numa mudança estatutária, de uma forma precipitada. O Santos disputando uma Série B, desvalorizado no mercado. Estando num nível diferente, a valorização já é diferente. Então, tudo aquilo vem acrescentar algo diferente.

— O Santos, com todo o respeito aos demais, é um dos clubes mais conhecidos mundialmente. Então, você tem a marca Santos, a possibilidade de ter a marca Pelé, que é o que nós estamos trabalhando também. Você imagina hoje essas marcas associadas com projetos futuros envolvendo jogadores que estão até ainda em atividades, como Neymar. Você recoloca o Santos tecnicamente, em termos de marca, num outro patamar.

— Tem SAF’s de sucesso, fizemos uma negociação no início do ano, adquiriu um jogador nosso. E desde o meio do ano não paga. O nosso financeiro fica questionando. O nosso goleiro, o John. Botafogo. Não paga. Quer dizer… Tem sucesso dentro de campo, mas não tem cumprido as suas obrigações. Qual é a justificativa do não pagamento? Nem imagino. Essa conta vai ficar para quem? Para a SAF ou para o clube? Não sei também. Não sou eu que preciso ter essa resposta. Quem tem que ter essa resposta são os associados do clube. Mas hoje é uma realidade. Talvez o salto, um passo maior do que deveria ser dado e não estava tendo a possibilidade.

— Nós temos que ter muito cuidado hoje quando você fala sobre SAF, porque tem que ser montada, estudada e colocada em prática de uma maneira bem criteriosa e não é com exemplos como já tiveram no Brasil, com clubes que estavam à falência, totalmente endividados, disputando a Série B. Seria fácil. Na Série B, vamos pegar uma SAF. Não é esse o caminho. O caminho dos clubes de futebol brasileiro chama-se gestão. A gestão é modelo aonde? Num clube associativo, como também numa SAF. Qualquer modelo, você tem que ter uma gestão. Seja ela a opção que for, mas, nitidamente, tem que ter uma gestão.

O senhor já conversou com o Neymar pai sobre SAF?
— Não, nunca conversamos sobre isso. Nunca, nunca. 

Mexe um pouco com o imaginário do torcedor…
— Hoje em dia, a gente comentava sobre isso, essa irresponsabilidade dos blogueiros, dessas redes sociais. Eu fico perplexo, a gente abre logo cedo, de manhã cedo você vê lá, tal, tal, tal, tal, o Santos contratando A, contratando B, contratando C, o técnico, já colocaram acho que uns 15 técnicos no Santos, 15, e aí depois os próprios que vão alimentando, eles mesmos depois não respondem.

Marcelo Teixeira encontra Neymar Pai em Mangaratiba — Foto: Reprodução/Instagram

Marcelo Teixeira encontra Neymar Pai em Mangaratiba — Foto: Reprodução/Instagram

Essa conversa não chegou a existir em um contexto de informalidade? Você não teria interesse? 
— Nunca, nunca, nada. Os projetos são totalmente diferentes. Ao contrário de SAF, de aquisições e de… Se ele pensa de alguma forma, nunca me falou sobre isso. Se alguém entrevista, tem que me mostrar ou ele mesmo me falar, porque até agora todas as conversas com o Neymar, pai, filho, são sempre muito diferentes dessa em termos de SAF.

Muita gente faz essa associação da possibilidade do Neymar retornar com esse gancho de SAF…
— É natural, porque quando você traz um grande jogador, traz com ele uma série de parceiros. O Santos tem os seus dividendos também, as suas situações de benefícios. Então, isso é normal, mas não, em termos de você vender o clube. Não há necessidade. 

O senhor desenhou um cenário de que o Santos está bem defasado em relação aos seus principais rivais. O senhor entende que apenas com a gestão, reduzindo despesas e aumentando receitas, é possível colocar o clube no patamar desses outros clubes?
— É possível. Um exemplo claro como você citou: como vai igualar a estrutura de um centro de treinamento? Ainda bem que nós tivemos uma visão de futuro quando fizemos o centro de treinamento profissional. Nós tivemos agora o representante do Luís Castro, que foi a Santos, fez questão, porque foi informado por outros clubes aqui do Brasil que o centro de treinamento era assim, assado, e ele estava traumatizado com isso. Falei: “Nós temos fotos, temos vídeos”. E ele: “Não, não, eu quero ver”. E ele falou: “Realmente é um CT moderno, vocês fizeram recentemente?”. Não, fizemos em 2005, 2006. No ano passado fomos lá visitar, e estava lá o mesmo preguinho do quadro, o mesmo quadro… Só trocamos as televisões, porque são coisas que ficam no tempo.

— Como superar isso? Com criatividade. Você tem hoje a possibilidade da Lei de Incentivo ao Esporte com a qual pode captar (recursos), como nós estamos tendo a possibilidade de fazer junto a empresas do Porto (de Santos), uns R$ 22 milhões já temos captado e possivelmente direcionaremos ao novo centro de treinamento. A base é nossa prioridade. O profissional também passará por uma modernização, mas não nos preocupa tanto. O que preocupa mesmo ainda é a estrutura da base. Definida a questão envolvendo a área que estamos estudando (para construir), em Santos, São Paulo, ou mesmo, talvez, uma parceria, como na gestão anterior em que estava sendo estudado construir na Praia Grande. 

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